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Chico Castro

Que país será este?

Já dizia a música da Legião Urbana, “que país é esse?”. Nesses tempos anteriores às eleições, vale (ou não) a pena parar para refletir sobre nosso “país tropical, abençoado por Deus, e bonito por natureza”. Na década de 1980, Ary do Cavaco e Bebeto Di São João, compuseram em samba que ficou muito famoso no país todo, tinha o título de “reunião de bacana”, porém poucas pessoas “ligaram o nome à pessoa” (no caso aqui, ao samba), o que muitos lembram é do refrão: “E se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão”. Pois é, lá se vão mais de 30 anos, e se fosse lançado hoje, continuaria atualíssimo. Mas, voltando ao assunto principal, as eleições de 2018, refleti sobre onde está o problema, e cheguei a triste conclusão, o problema, definitivamente, não está nos políticos, mas sim no povo. O político não se elege sozinho, precisa que alguém lhe dê procuração para “agir”, e quem lhe passa essa procuração somos nós.

Em conversas informais, o que mais encontramos é gente indignada com nossa classe política, mas quando questionamos sobre as intenções de voto, pegue uma cadeira, sente, e se prepare para o susto, os possíveis candidatos apontados são os mesmos de sempre. Aí vem a pergunta, onde está a indignação de momentos imediatamente anteriores? Quando se pergunta, por que não trocar, as repostas, de maneira geral são as mesmas, “políticos são todos iguais”, aí a nova pergunta: Então pra que eleições? Pra que trocarmos? Deixemos como está, e coloquemos nas mãos divinas nossos destinos.
A coisa realmente não funciona assim, se estamos indignados, mostremos nossa indignação nas urnas, não aceitando que a coisa não tem jeito. Jeito tem, só que o povo tem que mudar. Mudar sua concepção, mudar suas paixões. Que não me entendam mal as mulheres, o que vou expressar não é regra (ainda bem), mas são fatos relatados em muitas delegacias especializadas em atendimento às mulheres, quando algumas delas são agredidas, dão queixa do agressor, mas tempos depois retiram a queixa, e se sujeitam as novas agressões, quando não a morte. Assim estamos nós eleitores, nos queixamos dos nossos representantes, e depois os reconduzimos aos mesmos cargos. Não toleramos a corrupção, mas votamos “de olhos fechados” em candidatos denunciados. Que país é esse? Melhor dizendo, que povo é esse?
Ao presidente da França, na década de 1960, Charles de Gaulle, é atribuída uma frase muito conhecida, que segundo fontes diplomáticas brasileiras naquele país na época, nunca foi dita pelo próprio, que o Brasil não era um país sério. Qual o problema se houvesse dito? Estaria errado? Sem paixões partidárias, analisando os fatos existentes, vejamos o que “temos pra hoje”. Dos candidatos ao principal cargo do país, o de presidente, as possibilidades eram até dias atrás, do candidato mais bem colocados nas pesquisas, condenado, e preso, o que em qualquer país descente do mundo seria considerado um absurdo. Dos demais candidatos, dentre os mais bem cotados nas pesquisas, inclusive o substituto do que foi negado o registro por estar preso, denúncias de corrupção ou improbidade administrativa, relembrando, analisando os fatos sem paixões partidárias ou identificação ideológica com/por nenhum partido. Ou seja, na minha singela opinião, não deveriam nem ter os registros de suas candidaturas sido aceitas, pois ,caso eleitos, passarão o mandato inteiro recorrendo na justiça, até que acabam o mandato, aí perdem os recursos, e mesmo assim, governaram por todo o período indevidamente.
Se estendermos para os demais cargos, a realidade não é nada diferente, ou até pior. E tome paixões partidárias, e volta a pergunta: Cadê a indignação com a corrupção e com os maus administradores? Se são contrários ao meu pensamento/ideologia, dá-lhe críticas, das mais ácidas, se são favoráveis, é estória dos outros, perseguição por causa dos bons feitos. Num livro de 1949, chamado 1984, do escritor nascido na Índia britânica, George Orwell, ele descreve um país imaginário (pra época), onde o governo controlava toda a população, inclusive com imagem, um Big Brother, nele o autor criou um conceito ou neologismo, uma palavra nova, doublethink, que poderia ser traduzido por duplo pensamento ou duplipensar, como está na versão traduzida da obra. E que raio isso quer dizer? O autor explica, “Saber e não saber, ter consciência de completa veracidade ao exprimir mentiras cuidadosamente arquitetadas, defender simultaneamente duas opiniões opostas, sabendo-as contraditórias e ainda assim acreditando em ambas”, ou seja, você é contra a corrupção e defende político corrupto, e continua acreditando que é contra a corrupção, pois arruma uma desculpa para defender o ”meliante”, se iludir a si mesmo. 
E assim vamos, duplipensando, nos enganando, e agora ainda tem o pior, que mesmo depois da experiência vivida atualmente com Dilma/Temer, insistimos e analisar somente o candidato cabeça de chapa, esquecendo do seu vice, como se este fosse somente uma figura decorativa, assim como pensaram que seria o Temer. Vejam no que deu. Como falei, alguns dos candidatos estão sendo processados, com a chance de serem condenados, não sabemos, e se forem, a não ser que o STF modifique seu posicionamento, independente da situação atual, o candidato pode ser processado e condenado por crimes cometidos antes do mandato que está exercendo. Então vejamos o risco que estamos correndo se olharmos só para o cabeça de chapa, pro candidato a presidente, esquecendo do seu possível sucessor.
Desta forma, estamos diante de um quadro extremamente preocupante e complexo, onde mentiras são divulgadas por candidatos, sem a possibilidade de haver uma contestação, ou de que provem, falam de seus feitos realizados, quando sabemos que a coisa não é bem assim, prometem coisas absurdas, sabendo da impossibilidade de execução (esta prática muito usada por aqueles candidatos kamikazes), ou da dificuldade de implementação, de coisas que independem do próprio presidente. Um exemplo prático que ouvi esses dias, em propagandas eleitorais de mais de um candidato, é da isenção de cobrança de Imposto de Renda para quem ganha até um tanto de salário mínimo, eles só esquecem dizer, de forma clara, comprovada, como vão cobrir essa perda de arrecadação. E assim vamos, de duplipensares, de mentiras, de “rouba mas faz”, de reclamações, de descrenças, de tudo do mesmo, relançando músicas antigas/atuais. A pergunta que faço, não é “que país é esse?”, mas que país será esse. A dica que fica é para ouvirmos e refletirmos sobre a música “comunidade carente”, de Barbeirinho do Jacarezinho, Luiz Grande, Marcos Diniz , gravada por Zeca Pagodinho. 

 

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